Uma meia solitária sobre a cômoda
Destaca-se no cenário minimalista
Tudo em ordem no universo simétrico
Mas a meia branca destoa bastante
Ao lado direito do móvel escuro
E, como é de costume
Para uma mente inquieta,
Logo, comecei a questionar:
Como a meia foi parar ali?
Será a meia a expressão do caos?
Será que Deus quer me dizer algo?
Serei eu digno de uma revelação?
Será que o Criador é minimalista?
Por que eu deveria me importar com a meia?
Depois da reflexão filosófica
A meia continuava lá, impávida
A anunciar que foi minha companheira
Por centenas de quilômetros na vida
Protegeu e trouxe conforto ao meu pé
Aqueceu-me no frio de julho
Virou boneco na mão de Joca
Talvez tenha sido uma bola
A fazer a alegria
No futebol das crianças
Mas a meia continuava lá
Com um ou dois furos
A denunciar a sua idade
Provando que tudo
Absolutamente tudo
Pode virar poesia
Até mesmo uma meia furada.